1960-1969 - O horror internacional Após décadas produzindo filmes influenciados por temas e estilos estrangeiros, Psicose (Psycho, 60) ( Fig.55 ) é considerado o primeiro clássico de horror totalmente americano - ainda que pelas mãos do britânico Alfred Hitchcock. Rodado num preto e branco de clima sombrio e sufocante, conta a história do psicótico Norman Bates, que entre seus diversos crimes, esfaqueia até a morte uma desprotegida mulher no banheiro, na mais marcante cena de assassinato do cinema. O livro original escrito por Robert Bloch foi baseado no caso real de Ed Gein, um assassino necrófilo de Wisconsin que violava túmulos e mumificava os corpos de suas vítimas, usando pele humana para revestir móveis e utensílios domésticos. Mais tarde Gein inspirou os lúgubres Mente Diabólica (Deranged) e O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre), ambos de 74. O sucesso de Psicose e do perturbador filme britânico Peeping Tom ( Fig.56 ) (1960, sobre um psicopata obcecado em filmar a reação das mulheres ao assassiná-las) desencadeou uma série de cópias tanto na América quanto na Inglaterra. A Hammer tentou capturar o clima da obra de Hitch produzindo uma série de imitações a partir de Trama Diabólica (Homicidal, 61) ( Fig.57 ) , outra empreitada de William Castle, desta vez introduzindo uma "pausa para os medrosos", que dava oportunidade para os espectadores mais assustados sairem do cinema tendo o dinheiro da entrada reembolsado! A seguir surgiram Um Grito de Pavor (Taste of Fear, 61) ( Fig.58 ) , Maniac (62), Paranóico (Paranoiac, 62), Cilada Diabólica (Nightmare, 63), Terrível Pesadelo (Hysteria, 64), Nas Garras do Ódio (The Nanny, 65) e Num Crescendo de Violência (Crescendo, 69). Uma onda de filmes de horror psicológico retratou o monstro mais humano - aquele que se esconde bem no íntimo das pessoas. A enlouquecida Bette Davis e a sofrida Joan Crawford duelaram magistralmente em O que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?, 62) ( Fig.59 ) . Bette Davis retornou em Com a Maldade na Alma (Hush... Hush, Sweet Charlotte, 65), desta vez atormentada por Olivia De Havilland. Estes filmes se destacam pelos densos personagens femininos, escapando do maior clichê reservado às mulheres nos filmes de horror: a mocinha indefesa que passa a maior parte do tempo gritando histericamente. Catherine Deneuve viveu uma desequilibrada loira gelada em Repulsa ao Sexo (Repulsion, 65) ( Fig.60 ) , enquanto a babá Deborah Kerr acabava com o estigma da inocência infantil em Os Inocentes (The Innocents, 61). Fanatismo Macabro (Fanatic/Die! Die! My Darling!, 65), Almas Mortas ( Fig.61 ) (Strait-Jacket, 64, com Joan Crawford em outro delírio de Castle), Desafio do Além (The Haunting, 63) ( Fig.62 ) e A Noite Tudo Encobre (Night Must Fall, 64) também são intrigantes exemplares neste gênero de horror mais cerebral, além do apavorante O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 68) ( Fig.63 ) , de Roman Polanski, mexendo com um satanismo de tirar o sono das mulheres grávidas. Polanski voltou a flertar com o gênero em A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers or: Pardon Me, But Your Teeth Are in My Neck, 67) ( Fig.64 ) e O Inquilino (The Tenant, 76). Na mesma época, o mestre Corman resgatava contos clássicos de horror com uma excelente série de fitas econômicas mas de muito estilo, adaptando histórias de Edgar Allan Poe. Os filmes lançavam novatos como Jack Nicholson, aproveitando os últimos anos de vida dos astros Boris Karloff, Lon Chaney Jr., Peter Lorre e Basil Rathbone. O Solar Maldito (House of Usher, 60) ( Fig.65 ) , Obsessão Macabra (The Premature Burial, 62) ( Fig.66 ) , Muralhas do Pavor (Tales of Terror, 62) ( Fig.67 ) , O Corvo (The Raven, 63) ( Fig.68 ) , A Orgia da Morte (The Masque of the Red Death, 64) ( Fig.69 ) e O Túmulo Sinistro (The Tomb of Ligeia, 65) são alguns dos melhores títulos deste ciclo, que contava com presença praticamente obrigatória de Vincent Price nos papéis centrais. A antítese dessa abordagem cheia de classe era representada pelos excessos de Herschell Gordon Lewis, o mestre do gore - estilo de filme que prima por abundantes jorros de sangue e onde o que menos importa é o roteiro. Lewis dirigiu Banquete de Sangue (Blood Feast, 63) ( Fig.70 ) e Maníacos (2000 Maniacs, 64), filmes de pura matança que tornaram-se clássicos no gênero. A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 68) ( Fig.71 ) , de George A. Romero, foi o filme que realizou a transição definitiva do horror gótico para um estilo muito mais violento. Este clássico instantâneo abusava das sombras para mostrar um grupo de pessoas atacadas por mortos que, sem qualquer motivo aparente, levantam-se das sepulturas sedentos por carne humana. A década de 60 marcou também a internacionalização do terror, que passou e ter seus importantes representantes em diversos países até então sem qualquer tradição no gênero. O italiano Mario Bava estreou lançando Barbara Steele no horror como a bruxa que arquiteta uma vingança macabra no belíssimo A Maldição do Demônio (La Maschera del Demonio, 61) ( Fig.72 ) , retornando com a compilação de histórias As Três Máscaras do Terror (I Tre Volti della Paura, 64) ( Fig.73 ) , com Boris Karloff. Gritos en la Noche (1962), do espanhol Jesús Franco, lançou o personagem do Dr. Orloff numa explosiva mistura de horror, ficção-científica e pornografia soft. Também da Espanha veio La Marca del Hombre Lobo (1967), apresentando Paul Naschy (pseudônimo de Jacinto Molina) como Conde Waldemar Daninsky, o lobisomem que retornou em pelo menos mais uma dúzia de filmes, entre eles Las Noches del Hombre Lobo (68) e La Noche de Walpurgis (70). No México, causava muito estardalhaço a longa série de filmes estrelados por Santo e Blue Demon, heróis mascarados de luta-livre que combatiam bruxas, vampiros, múmias e lobisomens. Quando Romero assombrou o mundo com seus zumbis comedores de carne humana, um cineasta sul-americano chamado José Mojica Marins já havia mostrado muito mais ousadia com uma impressionante cena de canibalismo em O Estranho Mundo de Zé do Caixão (68), porém seus filmes de horror não ultrapassavam as fronteiras brasileiras. Mojica havia estreado em 63 com o chocante À Meia Noite Levarei Sua Alma, apresentando o personagem do coveiro Zé do Caixão, que voltou em Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (66) ( Fig.74 ) . Seus filmes arrecadaram rios de dinheiro nas bilheterias, despertando o ódio na crítica ao mesmo tempo que eram defendidos pelos colegas cineastas. A obra-prima do diretor foi O Despertar da Besta (69), uma mistura de pesadelos macabros com viagens de LSD que ia muito além do horror. Mas quase ninguém viu o filme - ele permaneceu inédito até 86, quando finalmente foi liberado pela Censura. O diretor deu sequência à sua carreira em dezenas de obras menores produzidas nas décadas seguintes, destacando A Estranha Hospedaria dos Prazeres (1975) ( Fig.75 ) e Inferno Carnal (1976) ( Fig.76 ) .